segunda-feira, agosto 17, 2009

(Abçs)


As esculturas.
Elas estão ali
E só isso
Pelo menos as que
representam nossa figura humana
Não abraçam
Embora possam ser abraçadas
Sempre frias
Lindas, intrigantes
Ficam ali estáticas
Para serem admiradas
Nem isso sequer esperam
Depois que são concebidas
Tornam-se independentes
Possuem personalidade própria
e sentimos suas almas
Sim, esculturas têm almas
Embora não sejam donas delas
é possível sentir
A alma do escultor
Até movimento elas têm
Mas um movimento estático
São fortes, duram séculos
Mas não passam de esculturas
Seus braços não se movem
Para nos abraçar
Para retribuir o abraço
Mesmo que fosse possível
Criar esculturas robôs
Sem vida
Então agora elas poderiam abraçar
Mas esse abraço seria outra escultura
Os abraços nem alma teriam
Por se tratarem de esculturas feitas
Pelas próprias esculturas
A sensação ao abraçar estátuas
é a mesma de se jogar um manto de cetim
Sobre elas,
escorrega e vai ao chão como os abraços
são desperdiçados quando
dados em estátuas
Nós somos esculturas
De gesso
De madeira ou bronze
O mundo nos abraça
Somos só indiferença
Que falta sinto
De um abraço
Apertado
De um longo abraço
Sem pressa
O abraço, termo singular,
É composto por três pessoas
Eu, o outro e o amor
Como uma espécie de trindade
Três pessoas em uma só
Sintam então o abraço deste escultor
De palavras mal elaboradas
mas não sejam como as estátuas
E deixem que sintam os seus abraços

quinta-feira, agosto 13, 2009

The Time Machine - Part 1


Como era comum, ele saía às tardes cheias de ócio, percorria quase uma hora de seu bairro até o centro comercial da cidade. As ruas sempre movimentadas, o comércio sempre fervilhando, pessoas de todos os rostos, idades, indo e vindo, desviando-se dele. Outras vezes precisava se esquivar de vendedores com seus tabuleiros. A chuva já começara a cair, algumas três gotas sobre seu braço. Mesmo com todas aquelas pessoas que não se sabia quem eram, nem de onde e pra onde iam, sentia-se solitário. Aquela gente estranha apenas fazia parte de um gigantesco cenário, elementos não coadjuvantes, nem precisavam estar ali. Apenas transtornavam sua passagem. A chuva começa a ficar mais forte quando ele entra em uma loja de variedades, uma grande loja. Nem queria comprar nada, mas já sabia qual primeira seção iria, já que teria que passar a chuva.
Na sua infância os brinquedos não precisavam de tanta tecnologia. Os lúdicos eram mais prazerosos, mas aquele fusca a pilha, da polícia, com sirene e tudo não saíam de sua imaginação. Foi um brinquedo prometido que nunca pode ganhar. As crianças não conseguem assimilar as promessas não cumpridas. Ele transitava entre prateleiras, fitava os brinquedos, já não tinha idade pra brincar, justo agora que não dependia de promessas. Os brinquedos perdem a graça e o sentido quando se é adulto. Se agora ele pudesse presentearia a criança que foi. Como nos filmes de ficção, filmes de viagem no tempo. Seus filmes de ficção preferidos. A vontade de consertar pequenos deslizes, evitar erros incorrigíveis, desdizer palavras, ou pronunciar outras que precisavam ser ditas. Na ficção isso era sempre possível, mas como um clichê desses filmes, a alteração do que já acontecera trazia graves prejuízos. Não era isso que ele queria. Esperava apenas que todos confiassem nele, queria evitar mal-entendidos e as conseqüências causadas pela falta de articulação das palavras.
Era possível criar vários personagens de si, com histórias e enredos diferentes. Cada um seguindo uma ramificação do que poderia ou deveria ter acontecido, não fosse tamanho mal-entendido. Cada um em época distinta.

quinta-feira, agosto 06, 2009

Go on


Em formol
Informal
Une forma
Uniforme
Une verso
Costura frases
Faz as pazes
Ases
De copas
Cozinhas planejadas
Plantado
Em solo arenoso
Sem rocha
Roxa ou lilás
Tanto faz
Tatoo trás
Cicatriz
Espinha no nariz
Dorsal
Dor
Adormece
Adoece
S
Esse
Não sou eu
Não soou bem
Sou
De
Bem
Muito mais
Além
Do que
Se vê
Não querer
Argumentar
Deixar pra lá
É chover
No aguaceiro
Gotas
gota
go
o
.
go
on
o
.

terça-feira, agosto 04, 2009

- Temporal -

É noite. Pessoas passando
Intermitentemente,
Escolhi um lugar de intensa movimentação
Como esta estação
A chuva fina encharca papéis de
lixo no calçamento
Pessoas fumando passam
A fumaça me sufoca
Debaixo da coberta úmida
Estendo a mão trêmula e encardida
E murmuro alguma coisa
Como “Me dê uma ajuda”
Apenas gotículas são depositadas
Sou ignorado
Incomodo com meu cheiro
E com minha presença
Como cheguei até aqui?
A culpa é só minha?
Uma parte da culpa, sei que sim
Onde eu moro agora?
Em um iglu feito de papelão
Dividindo espaço
Com outras pessoas
De condições semelhantes
E temperamentos, manias, vícios
Idades
Diversos
Causo medo

Repugnância
Às vezes sou filósofo
Minhas vestes são de tom
Marrom e verde musgo
Ninguém sabe
Mas tenho uma riqueza
Escondida, como qualquer um
Mas não se sabe como
Chegar até ela
Nem tenho noção de hora
Mas sei que é hora de persistir
Uma senhora deixou
Uma moeda de 25
E duas de 10
Tão geladas
A chuva parou
Por enquanto